quarta-feira, 11 de junho de 2008

Eduardo Prado Coelho - Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como
Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão
que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós.
Nós como povo Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre
valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais
apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito
aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão
ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos
passeios onde se paga por um só jornal
E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras
particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo
o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para
eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda
a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram
lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os
esgotos.
- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens
dizem que é muito chato ter que ler) e não há consciência nem memória
política, histórica nem económica.
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para
aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar
a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações
médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com
uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro,
enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe
dar o lugar.
- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e
não para o peão.
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos
sempre a criticar os nossos governantes.
- Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de
Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem
corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
- Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu
como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um
cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não.
Já basta.

Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta
muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita,
essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se
converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade
humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é
real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,
ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o
suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas
enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve
Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a
força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima,
ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram,
seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....
igualmente abusados!

É muito bom ser português.
Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às
nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam
um messias.

Nós temos que mudar.
Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro...
Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos.

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,
francamente, tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o
responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)
que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de
desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O
ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ.
NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

EDUARDO PRADO COELHO

2 comentários:

Rita Galante disse...

Querido Amigo!

Antes de mais, obrigada pela tua visita és sempre bem-vindo.

Assino embaixo o que Eduardo Prado Coelho diz. O mal está em nós. Sou também "culpada" porque nasci aqui como portuguesa, mas não me identifico nada com o povo português, mesmo em NADA! Mas continuo a lutar por um país melhor, um mundo melhor, dando valores e princípios positivos aos meus 3 filhos, para que cresçam pessoas correctas, educadas, honestas, companheiras... e que possam espalhar o Amor por todo o lado, tal como os pais deles fazem. Não desisto, isso não, apesar de pertencer a um grupo muito pequenino.

Fica bem.

Beijinhos de Amor, Paz e Luz!

Menino do Coro disse...

Querida Amiga !

Também me continuo a esforçar para não cair nessa gereralidade que se acha aí retratada. Fiz tudo o que me foi possível para os meus dois filhos serem educados também dentro desses padrões de civilidade e acho que consegui.
Fica bem. Estou retribuindo o beijinho.

Felicidades,