quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

GAZA E ISRAEL






Gaza e Israel - A visão de Fernando Nobre, Presidente da AMI

Domingo, 4 de Janeiro de 2009


Grito e choro por Gaza e por IsraelHá momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia. O que está a acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes ("terroristas") do movimento Hamas. Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas: - Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento "terrorista" Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel.. - Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamizaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas "terrorista" que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus? - Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão. - Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!). - Estranha guerra esta em que o "agressor", os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os "agredidos". Nunca antes visto nos anais militares! - Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos "heróis" que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia! - Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra! - Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca! - Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz! - Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia! Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos! É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse. É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são. PerfilFernando José de La Vieter Ribeiro Nobre nasceu em Luanda em 1951. Em 1964 mudou-se para o Congo e, três anos mais tarde, para Bruxelas, onde estudou e residiu até 1985, altura em que veio para Portugal, país das suas origens paternas. É doutor em Medicina pela Universidade Livre de Bruxelas, onde foi assistente, e especialista em Cirurgia Geral e Urologia.É Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Académico Correspondente da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. É membro do Conselho Geral da Universidade de Lisboa e do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior e docente convidado (em Mestrados e Pós-Graduações) nas Faculdades de Medicina de Lisboa, Coimbra e Minho, na Universidade Autónoma de Lisboa, no Instituto de Estudos Superiores Militares e no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. Foi administrador dos Médicos Sem Fronteiras - Bélgica e fundou, em Portugal, a AMI – Assistência Médica Internacional, à qual ainda preside. Participou como cirurgião em mais de duzentas missões de estudo, coordenação e assistência médica humanitária em cerca de sessenta países de todos os continentes.É presidente da Assembleia Geral do Instituto da Democracia Portuguesa, exerce o mesmo cargo na Associação Tratado de Simulambuco e é patrono da Fundação Burgher Portugal - Sri Lanka. É membro da Real Sociedade de Cirurgia (Bélgica), da Associação Europeia de Urologia, da Associação Portuguesa de Urologia, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio do Grémio LiterárioRecebeu vários prémios e distinções em Portugal e no estrangeiro, incluindo o primeiro prémio da Associação Europeia de Urologia e a medalha de ouro dos Direitos Humanos, da Assembleia da República Portuguesa. É Grande Oficial da Ordem do Mérito, Cavaleiro da Legião de Honra de França, Cavaleiro da Real Ordem da Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e detentor da Grã-Cruz da Ordem Apostólica de S. Tomé. É cidadão de Honra da Câmara Municipal de Cascais e Embaixador da Boa-Vontade da Ilha de Gorée, no Senegal.

Tem quatro filhos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A PROPAGANDA É TUDO !

Então, um "sujeitinho" desce na estação de metro de Nova Yorque trajando jeans, T-shirt e boné, encosta-se próximo da entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que por ali passa, mesmo na hora do 'rush' matinal.
Durante os cerca de 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes, ninguém sabia, mas o músico, o "sujeitinho", era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento estimado em mais de 3 milhões de dólares, um raríssimo Stradivarius de 1713.
Alguns dias antes Joshua Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares tinham sido pagos pela ninharia de 1000 USD.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, telemóvel na orelha, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

Conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto.
Joshua Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta de grife.
Eu concluiria ainda mais; a cultura da arte é um estatuto do 'faz de conta'.